Conceituando Vanguarda no Teatro
Por: Sandro Freitas
· Originalmente, o termo vanguarda designava uma estratégia militar. As vanguardas definiam uma preponderante função destrutiva: romper frentes, destroçar infra-estruturas, bater retaguardas, desarticular e inutilizar as formas de subsistência do inimigo. Esse conceito militar de vanguarda designava uma dissolução geral de tudo quanto fora sólido em proveito de um principio arcaico de violência e poder. Seus meios eram a surpresa, a rapidez, a eficácia, a universalidade ou a economia de suas estratégias. Um carisma heróico inflamava suas aventuras de “antenas da tropa”. A destruição vanguardista expressou sempre a virtude exemplar de um originário princípio constituinte de poder.
A identificação da criação artística com a estratégia militar não é somente exterior: não é uma metáfora casual das vanguardas históricas que, num dado momento, pôde surpreender Baudelaire pelo inusitado da questão, esse significado militar compreende um valor básico das próprias vanguardas artísticas: seu caráter destrutivo, a concepção niilista do mundo, a visão providencialista da história, a pretensão absoluta da ordem, das normas estéticas e sociais, e também do poder.
· Sintonizadas com os avatares da estratégia militar e do projeto militar revolucionário, as vanguardas artísticas foram atravessadas pelas mesmas ambivalências: espírito de aventura e experimentação, mas também um caráter destrutivo e um objetivo de ocupação e colonização culturais, vontade de transformação e progresso, e ao mesmo tempo definição de um poder carismático e total, uma atitude critica e revolucionária, mas ao mesmo tempo o princípio legitimador de um novo sistema globalizador de dominação.
· O teatro de vanguarda é um adolescente teimoso, mas é avô, mais velho que o nosso século, e vem se renovando com um rigor impressionante desde seu berço, desde a estréia, a 9 de dezembro de 1896, do Ubu-Rei de Alfred Jarry, em uma noite Parisiense que se impôs como um dos grandes escândalos da história do teatro moderno.
· O teatro de vanguarda, assim como tantos outros aspectos da cultura contemporânea, encontra no romantismo o seu início.
· Não existem, por exemplo, coordenadas que permitam dar certa unidade à linguagem do teatro de vanguarda. Se em alguns autores encontramos a busca de uma linguagem poética, outros vão além de um linguajar banal e mesmo anti-poético; um terceiro grupo atomiza destruidoramente a linguagem, e não faltam autores que combinam diversos desses processos. O mesmo pode ser dito do tratamento das personagens, da construção cênica, das relações espacio-temporais, da reversibilidade ou respeito a categorias como o trágico e o cômico, e assim por diante.
· O dramaturgo do teatro de vanguarda, arvorando-se em destruidor do mundo, cria, por outro lado, a partir de convenções que são o produto exclusivo de sua própria lavra; as suas personagens movem-se em um mundo completamente estranho à mentalidade normal.
· Se sua linguagem se torna caótica, esse caos não é apenas o índice de uma civilização já cansada de seus próprios meios, mas é também o regresso de uma forma primitiva de linguagem. Origem e fim coincidem, pois, como o zero do qual tudo emana e para o qual tudo retorna. Situado no ponto zero ou no infinito, o homem pode, enfim, construir o seu mundo original.
· O teatro de vanguarda não pode ser considerado como o produto de uma corrente negra entre outras correntes brancas ou cor de rosa, mas como a expressão de um todo cultural, de uma situação histórica, em que cada aspecto reflete a totalidade do conjunto.
Por: Sandro Freitas
· Originalmente, o termo vanguarda designava uma estratégia militar. As vanguardas definiam uma preponderante função destrutiva: romper frentes, destroçar infra-estruturas, bater retaguardas, desarticular e inutilizar as formas de subsistência do inimigo. Esse conceito militar de vanguarda designava uma dissolução geral de tudo quanto fora sólido em proveito de um principio arcaico de violência e poder. Seus meios eram a surpresa, a rapidez, a eficácia, a universalidade ou a economia de suas estratégias. Um carisma heróico inflamava suas aventuras de “antenas da tropa”. A destruição vanguardista expressou sempre a virtude exemplar de um originário princípio constituinte de poder.
A identificação da criação artística com a estratégia militar não é somente exterior: não é uma metáfora casual das vanguardas históricas que, num dado momento, pôde surpreender Baudelaire pelo inusitado da questão, esse significado militar compreende um valor básico das próprias vanguardas artísticas: seu caráter destrutivo, a concepção niilista do mundo, a visão providencialista da história, a pretensão absoluta da ordem, das normas estéticas e sociais, e também do poder.
· Sintonizadas com os avatares da estratégia militar e do projeto militar revolucionário, as vanguardas artísticas foram atravessadas pelas mesmas ambivalências: espírito de aventura e experimentação, mas também um caráter destrutivo e um objetivo de ocupação e colonização culturais, vontade de transformação e progresso, e ao mesmo tempo definição de um poder carismático e total, uma atitude critica e revolucionária, mas ao mesmo tempo o princípio legitimador de um novo sistema globalizador de dominação.
· O teatro de vanguarda é um adolescente teimoso, mas é avô, mais velho que o nosso século, e vem se renovando com um rigor impressionante desde seu berço, desde a estréia, a 9 de dezembro de 1896, do Ubu-Rei de Alfred Jarry, em uma noite Parisiense que se impôs como um dos grandes escândalos da história do teatro moderno.
· O teatro de vanguarda, assim como tantos outros aspectos da cultura contemporânea, encontra no romantismo o seu início.
· Não existem, por exemplo, coordenadas que permitam dar certa unidade à linguagem do teatro de vanguarda. Se em alguns autores encontramos a busca de uma linguagem poética, outros vão além de um linguajar banal e mesmo anti-poético; um terceiro grupo atomiza destruidoramente a linguagem, e não faltam autores que combinam diversos desses processos. O mesmo pode ser dito do tratamento das personagens, da construção cênica, das relações espacio-temporais, da reversibilidade ou respeito a categorias como o trágico e o cômico, e assim por diante.
· O dramaturgo do teatro de vanguarda, arvorando-se em destruidor do mundo, cria, por outro lado, a partir de convenções que são o produto exclusivo de sua própria lavra; as suas personagens movem-se em um mundo completamente estranho à mentalidade normal.
· Se sua linguagem se torna caótica, esse caos não é apenas o índice de uma civilização já cansada de seus próprios meios, mas é também o regresso de uma forma primitiva de linguagem. Origem e fim coincidem, pois, como o zero do qual tudo emana e para o qual tudo retorna. Situado no ponto zero ou no infinito, o homem pode, enfim, construir o seu mundo original.
· O teatro de vanguarda não pode ser considerado como o produto de uma corrente negra entre outras correntes brancas ou cor de rosa, mas como a expressão de um todo cultural, de uma situação histórica, em que cada aspecto reflete a totalidade do conjunto.
*FOTO: Cena do espetáculo: "A Quase Dor de uma Intensa Alegria" - Direção de Sandro Freitas, 1993 - Fotógrafo: Edimar Soares.
mas uma vez muito seu blog! estive aqui li e gostei, um abraço e um beijo!
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