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TEATRO NA CONTEMPORANEIDADE I

Silvana da Costa Alves.

O teatro tem pouca capacidade de reprodutibilidade, não pode ser industrializada e, portanto, segundo algumas pessoas é uma arte com pouca chance de sucesso na nossa era.Agrega-se novas tecnologias ao teatro e grandes discussões surgem a respeito de sua validade. Mas basicamente o teatro é feito de uma história contada por quem está no palco a alguém que está na platéia. Três elementos indispensáveis.Em tempos de facilidades tecnológicas - onde as pessoas de classe média (ainda existe?) pra cima tem telefone e internet à mão para baixar música, shows, filmes, para pedir comida entregue na porta – de imagens rápidas como ‘vídeoclips’ e livros sendo deixados de lado, o que esperar de uma arte que nasceu das primeiras manifestações de comunicação humana, que conta histórias há milhares de anos no mesmo formato?Pois é neste cenário que surgiu uma boa discussão. Algumas profissões foram suprimidas pela ciência, robótica, informática. Será o ofício do ator também suprimido? Estará o teatro fadado à extinção?
O Cinema já provou prescindir de cenários e os filmes de animação usam movimentos de seres vivos para dar vida a personagens que ainda têm voz humana. Mas como podemos contar uma história de maneira sucinta e, ainda assim, ter nela todo o conteúdo de idéias e sentimentos que o autor nos regala?
“(...)o teatro exige que nos concentremos, durante mais de uma hora, em seres humanos, se movendo apenas na velocidade humana, falando apenas com os timbres humanamente possíveis e com corpos de dimensões puramente humanas. Às vezes penso se não é pedir demais para, por exemplo, um garoto de 16 anos?”
(frase de Mateus Faconti, Diretor dos grupos Teatro do Pé e Paca-Tatu de Santos/SP)Claro, a frase está fora do contexto da postagem de Mateus em uma discussão, mas algum tempo atrás, pessoas de 16 anos já estavam casadas e eram consideradas adultas. O que mudou? A expectativa de vida aumentou, podemos ficar adultos mais tarde, mas isso não nos impede de querer receber uma educação que nos prepare para buscar e absorver informações com as quais podemos crescer e ter opiniões, a nos emocionar com uma boa história de comédia ou drama. Creio que, enquanto houver alguém interessado em ouvir uma boa história, não vamos deixar de fazer teatro. Ele existe até na maneira em que uma mãe lê ou conta uma história pro filho dormir.E se pensarmos nos milhões de pessoas sem acesso à facilidades modernas? Mesmo aquelas que vêem bastante televisão. Elas têm muito a receber do teatro. E gostam de toda oportunidade que têm pra vê-lo. Muitas pessoas nunca foram ao teatro. Talvez devêssemos investir nessa faixa da população.Alguém comentou na mesma discussão já citada aqui que espetáculos contemporâneos são os que acontecem quando se comunicam com as pessoas de seu tempo. Às vezes é contar uma história atual, por outras, contar Shakespeare com uma linguagem contemporânea. Falamos na tal função do teatro como modificador social...divagamos e discutimos tanto. Mas minha mente se atém a uma coisa só:Como tocamos o coração ou a mente de alguém hoje? Seguramente não é apenas com espetáculos pirotécnicos de altas tecnologias e gritos, imagens sobrepostas. Ainda acredito que pra chegar às pessoas se percorre vários caminhos e tenho confiança de que sempre conseguiremos chegar lá. Já tive respostas maravilhosas a trabalhos dos quais participei e vários de nós – artistas – têm muitas histórias desse tipo pra contar.A verdade é que, enquanto houver alguém pra ver e ouvir, estaremos lá pra fazer...

Foto: Grupo Trupicão: "Sobre o Amor..."

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