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TEATRO NA CONTEMPORANEIDADE II


Por: Mateus Faconti

Recentemente, no 4° Fórum Artí­stico da Cooperativa Paulista de Teatro, um assunto bastante discutido atualmente surgiu à tona - A busca de uma dramaturgia que se comunique com a nossa contemporaneidade. Eu já havia assistido a um debate sobre o mesmo assunto, no FIT de São José do Rio Preto e desde então venho pensando muito a esse respeito.
Indo além da questão da dramaturgia, a busca de um Teatro verdadeiramente contemporâneo é uma questão vital em um momento no qual temos cada vez menos público e nossa arte desperta cada vez menos interesse.Em primeiro lugar, acredito que o teatro é uma arte que vai na contra-mão de uma série de preceitos que regem nosso tempo.
O teatro tem pouca capacidade de reprodutibilidade e, portanto, segundo Walter Benjamim é uma arte que tem pouca chance de sucesso na nossa era. O teatro exige a presença dos atores, em tempo real, podendo ser apresentando em um único local por vez, para um público limitado de pessoas. É artesanal num mundo digital.
O teatro exige que as pessoas se locomovam até um local de representação. Não dá pra pedir pelo disk ou pela internet, não dá pra pegar no drive-thru, não se materializa a um toque de controle remoto. Ele exige que o espectador se disponha a uma atitude ativa de sair de casa e ir ao encontro de outras pessoas.O teatro exige concentração. Na era do videoclip, onde as imagens não se fixam por mais de três segundos; na era da internet, onde enxutí­ssimos resumos dão uma idéia geral do conteúdo que buscávamos nos livros; na era da televisão, onde os assuntos são absorvidos de forma absolutamente passiva; na era do cinema onde passamos de um vista aérea do Tibet para o interior de uma pensão de Moçambique em questão de segundos, o teatro exige que nos concentremos, durante mais de uma hora, em seres humanos, se movendo apenas na velocidade humana, falando apenas com os timbres humanamente possí­veis e com corpos de dimensões puramente humanas. Às vezes penso se não é pedir demais para, por exemplo, um garoto de 16 anos?
Então, que teatro é capaz de nadar contra essa maré e oferecer algo que nenhuma dessas outras mí­dias será capaz? O que o teatro tem de único para oferecer?Minhas indagações tem me levado, cada vez mais, a aperceber que todas essas limitações expostas acima, são justamente o que o teatro tem de mais necessário. O teatro promove o encontro do homem como Homem. Mas com O Homem. Pleno, inteiro, concentrado, denso. Não com o homem alienado que vemos nos pontos dos ônibus e nas filas dos bancos. O teatro produz um encontro com o homem(ator/herói) que chegou a limites da experiência humana. Durante meses de laboratórios, ensaios, observações e reflexões, esse homem se muniu de tal conteúdo, de tantas experiências, chegou às margens de tantas coisas… E disso tudo escolheu os melhores 60 minutos para oferecer, em comunhão, a outros homens. Por isso o teatro, enquanto não corrompido pela vaidade, é um ato de Amor.
E é esse Amor que o contemporâneo precisa. É esse alimento que lhe faz falta. Não basta criarmos textos tratando de assuntos atuais, até mesmo essenciais ao homem de hoje, se não comungarmos com estes, uma experiência humana e intensa. Se não nos permitirmos essa troca direta, essa promiscuidade energética que só o teatro, entre todas as artes, é capaz de proporcionar.
Até o momento em que terminei de escrever este texto é assim que pensei. Mas a porta está aberta para novas descobertas e mesmo violentas contradições. Estou em movimento.
Extraído do blog: TEATRO DO PÉ
Foto: “Cristiano Mullins e Robson Parente – “Ensaio nº 1” dirigido por Sandro Freitas.





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