Pular para o conteúdo principal


ENTREVISTA CONCEDIDA POR MARIA LUÍSA AO JORNAL OPÇÃO, EM VÉSPERAS DE LANÇAR O SEU ROMANCE: "OS CORDEIROS DO ABISMO".




Nesta entrevista, concedida aos escritores Valdivino Braz, Carlos Willian e João Aquino, Maria Luísa Ribeiro (que assinava suas obras como Malu Ribeiro), fala de sua nova fase literária, Provocada por perguntas extremamente polêmica, ela reage com firmeza. E provoca seus entrevistadores. Ela defende uma atuação mais arrojada do escritor goiano em defesa da literatura profuzida em Goiás. Para tanto, luta para incluir mais goianos no vestibular e para expor suas obras nas livrarias locais.

Natural de Goiânia, Maria Luísa Ribeiro é advogada e formada em letras. Ex-empresária do ramo de educação, como proprietária da Escola O Pernalonga, tem vários livros públicados, entre eles, O Domador do Rio (contos). Segundo ela, “o grande mal de muitos escritores goianos é se contentarem com a consagração local, entre parentes e amigos”.

___________________________________________


Valdivino Braz — Como você avalia, até aqui, o seu processo de criação literária, desde os primeiros livros, de poemas, passando pelo conto e agora chegando ao romance?

Poesia, literatura infantil, contos e romance. Avalio como um caminho experimental. Uma determinação de chegar a algum lugar fazendo literatura. Aliás, a arte como espelho do tempo há que caminhar com ele, e comigo não é diferente. Geralmente, com algumas exceções, o autor experimenta diversos gêneros literários até se identificar com aquele que supre as suas necessidades de criação. Então, aprimora o texto e cresce dentro do gênero. No meu caso, a poesia foi a chegada e a prosa, o porto.

Carlos Willian — Você tem pronto um romance profano, que mescla incesto com questões cotidianas. Não tem medo de ficar marcada pelo possível impacto do livro?

Incesto, necrofilia, pedofilia, satanismo e todas a licenças amorais da arte. Eu não caracterizo o romance Os Cordeiros do Abismo como uma obra somente profana. Ela é também “angelicalmente demoníaca” e extremamente paradoxal. Evidencia, sem pudor os sem-limites do homem porque os limites já não suportam mais serem escritos. Por si só se revelam na sociedade. Medo de ficar marcada? Que assim seja. Se a obra não marcar, não justifica o papel. Sade é impactante e permanece. Chiquinha Gonzaga e Simone Beauvoir continuam vivas nas suas ousadias. A própria Cora também chocou. Ela colocou, lado a lado, o canto da prostituta e o canto da mulher de todos os matizes. Se for direito meu ser também marcada pela ousadia, que me desculpem os pudicos mas o meu compromisso com a literatura saiu dos meus limites. Leopoldo Dornellas, personagem de Os Cordeiros do Abismo, afirma: “Eu não era homem nem mulher, mas um ser ruminando os próprios miolos”. Eu sou só a mulher que teve a coragem de criá-lo.

Valdivino Braz — O que levou você a essa guinada repentina em sua produção literária, saindo da amenidade, digamos assim, para uma obra mais contundente? Pelo que pude ver em primeira mão, você parece ter lido alguma coisa ou partido de alguma reflexão que influenciou essa mudança de direção ou divisor de águas em sua prosa?

Sempre viveu um vulcão dentro de mim. Mas eu não tinha ainda maturidade para mandar às favas as mantilhas das mulheres, o julgamento dos homens e nem mesmo a verdade das crianças. Depois de escrever Os Cordeiros do Abismo, que será lançado ainda neste semestre pela Editora OR do Rio de Janeiro, tenho certeza que a amenidade era somente um jeito de chegar. E esse divisor de águas é o rim da minha literatura. Depois do filtro só haverá de sobrar o que for vital para o meu sangue. O resultado contundente, não foi fruto de leitura, mas de reflexão. De tanto ver as bestas soltas bebendo vaidades nos colóquios sociais, pude fotografar o tamanho do homem na escalada inversa das virtudes. O meu vulcão entrou em erupção. Sei que haverá aqueles que fugirão das lavas, os que se misturarão a elas, os que tentarão contê-las e até mesmo os que colocarão óculos escuros. A minha única preocupação é o que O Tempo Responde.

(Entrevista extraída do JORNAL OPÇÃO – ONLINE, PUBLICADA NO PERÍODO DE 15 A 21 DE FEVEREIRO DE 2004).






























Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Vocabulário Básico de Teatro:

1) Ação (1): tudo que acontece numa peça de teatro, tudo o que fazem os personagens. 2) Ação (2): manifestação de uma causa. Movimento. Batalha. Feito. É a exposição animada do discurso. Ato. Desempenhar papéis. Desenvolver ações. 3) Ação exterior: pose ou gesto do ator visível para o espectador. 4) Ação interior: o ato de sentir (do ator) é uma ação interior. 5) Acessórios: complemento do figurino. 6) Ademanes: movimentos (principalmente das mãos.). Para exprimir idéias acenos, gestos, sinais, trejeitos. Gestos afetados, amaneirados. 7) Alegorias: exposição de um pensamento sob forma figurada. Ficção que representa uma coisa para dar idéia de outra. 8) Antagonista: personagem que se opõe à ação da personagem protagonista. 9) Aparte: comentário feito por um personagem, supostamente não ouvido pelos demais que estão em cena. O aparte pode ser dado diretamente à platéia ou na forma de uma fala do personagem para si mesmo. 10) Arena: área central, coberta de areia nos antigos circos roma

Os projetos sociais nascem do desejo de mudar uma realidade.

projetos são pontes entre o desejo e a realidade. São ações estruturadas e intencionais, de um grupo ou organização social, que partem da reflexão e do diagnóstico sobre uma determinada problemática e buscam contribuir, em alguma medida, para “um outro mundo possível”. Uma boa definição é formulada por Domingos Armani: “Um projeto é uma ação social planejada, estruturada em objetivos, resultados e atividades, baseados em uma quantidade limitada de recursos (...) e de tempo” (Armani, 2000:18). Os projetos sociais tornam-se, assim, espaços permanentes de negociação entre nossas utopias pessoais e coletivas – o desejo de mudar as coisas –, e as possibilidades concretas que temos para realizar estas mudanças – a realidade. A elaboração de um projeto implica em diagnosticar uma realidade social, identificar contextos sócio-históricos, compreender relações institucionais, grupais e comunitárias e, finalmente, planejar uma intervenção, considerando os limites e as oportunidades para a transfo

O Teatro de Eugenio Barba

VISÃO ANTROPOLÓGICA 1. Premissas Desde cedo, Eugenio Barba, aprendeu a observar com acuidade. O andar, o movimento das mão, maneiras de olhar, etc. Esta faculdade surgiu, nos diz, por ser basicamente um estrangeiro, na vida e na arte. Na vida, pois como Italiano de origem, veio ainda cedo, 17 anos, a emigrar para a Noruega, e sua dificuldade com a língua e os costumes, levaram-no a desenvolver a habilidade de entender sem o recurso das palavras, o que as pessoas que o circundavam sentiam: repulsa, amor amizade, compaixão... Ele é um estrangeiro na arte, porque como veremos, preservou este distanciamento que a vida o conduziu, em seu ofício, o teatro. O avalia com olhos que o distanciam do olhar tradicional. Postulamos, e ao longo de nossa análise tentaremos demonstrar, que este viés empírico, o infortúnio da saída de sua terra natal, Itália, aliada a procura existencial ( o quem sou Eu ?) define seu trabalho e suas idéias.Outra vantagem, é que esta baliza, questão existencial, nos ser